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"Raul Seixas - O Musical": iluminação perfeita faz brilhar um artista desbravador

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 11/03/2024 às 11:58:49

Raul Seixas sempre foi um artista diferenciado. Considerado o pai do rock brasileiro, deixou um legado importante e muito bem-vindo para todas a gerações.

Impossível negar que o artista é um dos maiores representantes do rock brasileiro. Uns dizem que Roberto Carlos é o maior roqueiro do Brasil, mas, para mim, o cantor está distante do que entendemos do estilo musical.

As letras e a musicalidade do Raul parecem ser muito mais atraentes para aqueles que admiram o estilo, mas isso é a minha opinião.

Assisti ao espetáculo “Raul Seixas - O Musical” e posso dizer que valeu a pena!

Aprendi sobre o rock brasileiro quando comprei um livro sobre o estilo na década de oitenta,. Essa obra me trouxe muitas informações e conhecimento, de norte ao sul do país. Tivemos artistas que fizeram história, como Humberto Gessinger, Serguei, Paulo Ricardo e muitos outros. No mesmo livro, aprendi a importância de Ney Matogrosso para a história do rock brasileiro. O livro trazia praticamente um capítulo sobre Raul Seixas, foi uma leitura leve e bem proveitosa.

Faz uns anos que assisti um musical que apresentava Merlin, o Rei Artur e Raul Seixas. Mas posso dizer que o espetáculo que está no EcoVilla Ri Happy, na Zona Sul do Rio, é mais atraente, pois traz somente Raul e suas esquisitices.

Como que pelo buraco de uma fechadura, a peça leva o público à intimidade do processo criativo do cantor durante uma noite de insônia em que ele compõe e reflete sobre a sua música e seu país.

O mergulho/pesquisa sobre o artista foi muito bem feito. A montagem é bem executada e tem mais do Raul que eu esperava.

Um cenário que, de longe, parece ser minimalista, mas não é, pois traz inúmeros detalhes, minuciosamente estudados para sua composição. Tudo muito com a cara do roqueiro.

Os figurinos também transcenderam, brilhosos, tecidos com caimento e que dão liberdade para o artista que está em movimento o tempo inteiro. Todos muito lindos. Ao se juntarem aos objetos de cena, desaguam em Raul, nos levam ao artista.

Mas vou evidenciar a iluminação: PERFEITA. Saímos do espetáculo impactados com o trabalho do profissional. Existem duas cenas que ficarão marcadas em minha memória toda vez que me lembrar dessa obra, através desse trabalho executado: lasers são levados em direção da plateia e refletores bem posicionados que fazem a sombra do artista no palco.

A escolha do repertório não poderia ser melhor, uma viagem muito bem feita. Quando saímos de casa com a intenção de assistirmos tudo de Raul Seixas, esperamos exatamente ouvir o que diretor leva ao palco. Muitas vezes tive vontade de ficar em pé e gritar: tente outra vez! A banda está impecável, sem falhas, uma delícia de se ouvir.

Vamos falar do artista Bruce Gomlevsky.

Todos que frequentam o teatro conhecem Bruce. Não falamos de um artista iniciante, mas de alguém que carrega na alma o teatro. Tudo que ele faz é de ótimo gosto, tanto na direção quanto no palco, Bruce é irressistivelmente atraente, gostoso de se ver. Ele não erra, é cuidadoso. Uma vez, no Centro Cultural do Banco do Brasil, ao terminar um espetáculo, que o artista dirigia, ele levantou-se e foi cobrir uma tira branca do palco, quase imperceptível.

As observações dele são de grande valia, pois fazem com que tenhamos cuidado na hora de escrever sobre suas obras.

O artista se entregou ao papel, foi indiscutivelmente RAUL SEIXAS. Ele sai de um baú e nos apresenta o "Maluco Beleza" sem titubear, do místico ao louco, de tudo um pouco. Entre versos e músicas escritas por ele, não devaneia ao ponto de não se fazer entender, mas nos apresenta um artista muito querido pelo Brasil. No carnaval, por exemplo, o bloco Toca Raul lota, nos faz entender a importância do artista para todos nós.

O sotaque é muito bem empregado. Afinal, falamos de um baiano. Bruce soube trazer essa característica do artista polidamente, sem exageros. O corpo do artista no palco também atua com majestade.

Interessante como a música “Carimbador Maluco” foi apresentada. Confesso que eu esperava que ela fosse chegar com mais agitação, mas não, veio com o auxílio da iluminação e um capacete vermelho, com delicadeza e MUITA beleza. Além de diferente, ficou assertivo, pois se trata de um teatro adulto. Adorei!

A música “Gita” me emocionou demais. Com uma capa, sentado, Bruce interpretou lindamente. Nos faz refletir, porque somos um pouco de tudo aquilo que ele cantou.

"Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou!”

Lindo!

A obra conta, em parte, as histórias das letras compostas, como “Cowboy Fora da Lei”. Fatos que eu não sabia. Isso, para mim, já seria suficiente para dizer que valeu a pena ter assistido.

Amei quando vi a bandeira do meu país naquele palco, com a palavra AMOR, que justifica o motivo da arte existir na vida dos artistas brasileiros, tão mal remunerados e pouco valorizados por aqui.

Bruce está indicado ao Prêmio Shell de Teatro, o que achei muito bom. Mas, independente desse resultado, afirmo que este artista é mais que um prêmio: é um fazedor de teatro do mais alto nível. Sempre estarei como espectadora em sua plateia, porque ele é como Raul: não fica parado e sabe executar!

Aproveitem para ver a obra! É uma delícia reviver Raul no corpo de um artista tão desbravador como Bruce e os demais profissionais que o cercam nessa montagem.

Parabéns a todos!

Ficha Técnica

Interpretação: Bruce Gomlevsky

Direção e Dramaturgia: Leonardo da Selva

Direção Musical: Gabriel Gabriel

Músicos:

Cantora: Sadili

Guitarra: Ziel de Castro

Baixo: Maninho Bass

Teclados: Junior Monteiro

Bateria: Carlos Oliveira

Cenário: Nello Marrese

Figurino: Maria Callou

Iluminação: Gabriel Prieto

Colaboração na Dramaturgia: Bruce Gomlevsky

Colaboração na Primeira Versão da Dramaturgia: Guilherme Bazana

Assistência de Direção: Tássia Leite

Preparação vocal: Deco Fiori

Direção de Movimento: Marina Salomon

Desenho de som: João Paulo Pereira

Camareira: Flávia Cotta

Contra Regragem: Taú

Direção de Produção: Gabriel Garcia

Produtores associados: Bruce Gomlevsky & Leonardo da selva

Realização: N.A.V.E & BG Art Entretenimento Ltda.

Serviço

ONDE: Teatro EcoVilla Ri Happy

Rua Jardim Botânico, 1008 – Jardim Botânico / RJ – Tel: (21) 3553-2616

TEMPORADA: Até 28 de abril

HORÁRIOS: sexta e sábado às 20h; domingo às 19h

INGRESSOS: R$ 100 e R$ 50 (meia)

BILHETERIA: sexta, das 13h às 22h; sab e dom, das 10h às 22h

CAPACIDADE: 350 espectadores

DURAÇÃO: 1h40

GÊNERO: Musical

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 12 anos


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